domingo, 7 de outubro de 2007

A Babilônia

Fui ao jardim da Babilônia,

encontrar sua flor mais bela.

Apenas encontrei

a flor mais esbelta.


Fui ao jardim da Babilônia,

encontrar sua paz mais sincera.

Apenas encontrei,

a paz mais cadavérica.


Não havia resposta,

no jardim da Babilônia.

Apenas uma pergunta.


O que seria a Babilônia?

Seus jardins e flores,

seus desencantos e amores?

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Decisão

Humm momento de dúvida,
as sinapses conturbadas
buscam um neurônio para articular
a racionalidade do ser.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Déjà vu

Despertara? Não sabia. Suava muito, isso sim. Buscou o copo d’água na cabeceira, ainda tonto de tudo aquilo que vira e sofrera e sonhara. Sonhara? Cambaleante, entrou no banheiro, olhou-se no espelho e não acreditou. Estava sujo de uma cor não sei o quê cinza nas mãos e rosto, seus braços lhe doíam pesados estirados músculos cansados. Outra vez outra vez, pensou. Voltou à cama, aquele monstro horrível de desespero e cansaço, de insônia e sono, de sexo e solidão. Dormiu novamente. Sonhou estar num plano branco, infinito na horizontal e na vertical, iluminado por um grande refletor que lhe ofuscava a visão toda vez que o olhava diretamente. De súbito, um trilhão de flashs pipocaram, deixando mais cego ainda, tentou correr sem enxergar e sentiu que caia. Agora estava numa planície de gramíneas curtas, de veludo acinzentado, um tom triste assim como o eterno cantar de um Bem-te-vi cego. Olhou ao seu redor, ao leste uma montanha alta se erguia imponente; ao sul a planície continuava para sempre. Ao norte notou uma pequena cabana e, correndo por sobre o veludo cinza e triste, chegou lá e bateu na porta. Ansioso, abre a porta e tudo estava escuro e gelado e mesmo assim ele entrou e aí a porta se fechou e tateando não conseguiu mais achar a saída e agora ele estava ali cantarolando no escuro para afugentar o medo. Começou a sufocar dentro daquela coisa escura, aquele buraco negro no tempo e espaço quando sentiu uma leve brisa fria subir-lhe pela espinha virou-se e nada e quando deu dois passos perdeu o equilíbrio e lá estava ele a cair novamente caindo caindo caindo até que de tanto cair dormiu, porque cair era muito gostoso o frio na barriga passara depois de um certo ponto e a sensação era legal. Despertara? Não sabia. Suava muito, isso sim. Buscou o copo d’água na cabeceira, ainda tonto de tudo aquilo que vira e sofrera e sonhara. Sonhara? Cambaleante, entrou no banheiro, olhou-se no espelho e não acreditou. Estava sujo de uma cor não sei o quê cinza nas mãos e rosto, seus braços lhe doíam pesados estirados músculos cansados. Outra vez outra vez, pensou. Voltou à cama, aquele monstro horrível de desespero e cansaço, de insônia e sono, de sexo e solidão. Dormiu novamente.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Aos miseráveis membros do Clube do Vinho

Taninos selvagens estalam em minha torpe boca, revelando a composição do vinho. Aguça o paladar, diz o velho. Não entende nada esse presunçoso. Aveludado na ponta, revela-se tímido ao fundo da língua. Baixa acidez, diz o velho. Acidez? Indago-lhe. Para mim isso mais parece vinho de mesa. Cala-te, neófito, tens muito a aprender. Tome a água, limpe sua sensibilidade. Agora tome este, que é mais rascante. Sorvo o líquido rubro, escarlate. Parece sangue, diz o jovem. E o que você entende disto? Diga-me, o que pensas sobre este? Diria que é recente, potente como um touro, no entanto desce como suco. Bom, diz o velho. Estás a aprender. Para enfezá-lo, digo que a safra é de 2003 e que se trata de um Rioja Crianza, dois anos no barril de carvalho. Ora esta, esbraveja o velho, estás me saindo um bom velhaco. Não preciso ler enciclopédias para isto velho, nasci com o dom. Muito bem, agora mais este. Já impaciente, afugento a água e sirvo-me da próxima iguaria. E agora, o que me diz? Este vinho, digo, lembra-me minha jovem amante. É mesmo? E a razão disto? É macio ao primeiro contato, mas cobra atenção ao descer, mostrando-se ácido, deixa-me zonzo, lacrimeja-me os olhos. Entendo, diz o velho lascivo. Diga-me, então acreditas que um vinho possa ser comparado a uma mulher? Claro que sim, aliás, é a minha escolha na falta delas. Podem ser combinados com certos elementos, no entanto esta escolha é extremamente difícil. Os que valem a pena são caros, por certo. Embriagam-nos facilmente e, no dia seguinte, demandam parcimônia, na forma de atenção. Não entendo, diz o velho. Não me diga que não tem ressaca? Ah, excita-se o velho. Além disto, cada espécime é diferente, variando no tipo de uva, terroir, safra e clima, produtor...Da mesma forma como cada mulher é uma história, suas curvas, suas cicatrizes, seus desejos, suas taras. Entretanto, pondera o velho, o vinho torna-se melhor com a passagem do tempo, enquanto que as mulheres murcham e se alquebram. Aí é que se engana, tolo senil. As mulheres experientes podem ensinar muito a um jovem como eu, além de já estarem calejadas e não requisitarem muito em troca, além do sexo, é claro. As jovens, por sua vez, demandam atenção, seja em forma de dinheiro, carinho, o que seja, como o faz um vinho de baixa estirpe, que custa em ser aceito pelo paladar aguçado. O velho, já febril, emborca a taça de vinho e escuta atentamente. Penso, cá com meus botões, o que é mais patético do que um velho que, tal como um vinho, não amadureceu, vivenciou situações, chorou amores e agradou mulheres?

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Fábula

Desde cedo
aprendeu a Raposa,
a não se interpor
à presa e seu predador.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

desculpas

acompanhem a produção em: dequatro.wordpress.com

quarta-feira, 16 de maio de 2007

A trilha

Sinto saudades de um tempo não vivido,
de amores não sentidos, lugares desconhecidos.
Sinto falta de ideologias não perdidas,
de praias ainda desertas, filosofias descobertas.

Sinto saudades da tranquilidade irresoluta,
de amizades não desfeitas, poesias não escritas.
Sinto falta da cachoeira, do asfalto à proa,
de filmes não vistos, angustias já vencidas.

Sinto saudades do livro presenteado,
do espaço conquistado, da segurança.
Sinto falta da sombra acolhedora.

Sinto saudades das maratonas,
das viagens, dos diplomas.
Sinto falta do meu futuro.