E ela vivia em seu quarto.
Namoro em casa e todas aquelas formalidades. Conheçeu apenas uma pessoa e já se casou. Assim eram os tempos pretéritos. Estudou apenas o primário. Teve quatro filhos, dois homens e duas mulheres. Seu marido prosperou e tornou-se cidadão-modelo: juiz de direito. E aí começaram as ligações e cartas anônimas, que já revelavam o distanciamento. Chorou. Chorou. A situação chegou ao ponto do insuportável. Desquitou-se. Sua filha fez o divórcio. Chorou. Chorou. Seu grande amor, seu único amor, a única pessoa que ela havia se entregado, a única pessoa que ela havia cogitado, essa pessoa a traiu. O processo não foi tranquilo. Rancor, ódio, amor, fúria, transtorno: tudo se misturava em sua cabeça. No entanto, ela tinha os netos. Corriam, brincavam, banhavam-se. Sua piscina sempre estava cheia: o germe da ruptura ainda não havia atingido seus filhos. Não tardou. Os filhos brigaram a respeito do pai. A respeito do dinheiro. Os netos cresceram. Não tomavam mais banho de piscina e nem comiam palha italiana. As goteiras persistiam em cair. Goteiras várias, rachaduras várias. O teto representa aquilo que poderia ter sido e não foi: a família dividida, os netos crescidos, a solidão. Em seu quarto, liga a televisão e cala. Cala para não chorar, cala para não gritar, cala para não morrer. Enquanto isso, as goteiras pingam, as rachaduras se expandem, os marimbondos procriam, a pintura se esvanece. Mas a televisão grita, discurso coagido, entorpece e silencia as mágoas. É ritmo, é ritmo de festa.
sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007
domingo, 4 de fevereiro de 2007
Manual do Sabotador: Comendo sozinho em restaurantes
Vamos ao primeiro manual do Sabotador: como comer sozinho em um restaurante e sair bem da situação. Muitas vezes o Sabotador se vê sozinho, sem companhia e, sem saco para cozinhar, quer ir comer alguma coisa, mas também não quer que as pessoas o julguem como um solitário, hermitão na cidade grande (apesar de que isso possa ser possível).
A primeira coisa que devemos observar é o dia da semana. Durante a semana, é comum pessoas comerem sozinhas, principalmente durante o almoço. As coisas, portanto, ficam mais fáceis. Vamos lá.
Durante a semana, escolha um lugar perto de escritórios, onde o movimento durante o almoço é grande. Se você não trabalhar/estudar no Centro, ainda assim existem várias regiões com alta concentração de escritórios, tais como Botafogo, Ipanema, Copacabana, etc. Chegue cedo, evitando o horário de almoço normal dos executivos, por volta das 13h-14h. O ideal é chegar as 12h30. Peça uma mesa de dois, mas já avise que só você irá comer. Se não houver uma mesa para dois (o que é raro durante a semana), peça para que uma mesa de quatro seja dividida. Sentar sozinho numa mesa para quatro pessoas é muito ruim e o sentimento de solidão só piora. Já acomodado, peça rapidamente o prato e a bebida. Dessa forma, o Sabotador demonstrará que está com pressa, mesmo que isso não seja verdade, o que justifica o fato de estar indo sozinho ao restaurante. Feito o pedido, vem a parte fundamental: saque algo para ler. Durante a semana, fica mais fácil pegar alguma coisa da faculdade ou do trabalho para ler e isso será tomado como algo normal. Dependendo de como o fizer, o Sabotador passará uma imagem ideal. Coma, beba e peça a conta e, é claro, um café expresso. Pronto, você sobreviveu a um almoço desacompanhado.
Agora, nos finais de semana, a coisa complica mais. Domingo, por exemplo, é um dia no qual famílias inteiras vão almoçar juntas, grupos de amigos, etc. Daí decorre a dificuldade em encontrar um restaurante que tenha mesa só para dois. Da mesma forma como durante a semana, procure se adiantar ao movimento: chegue no lugar por volta das 13h-13h30. Se não houver mesa para dois, não se acanhe e se sente numa mesa para quatro e não se perturbe se, passado algum tempo, houver fila e as pessoas te fuzilarem o olhar. Problema delas, quem mandou não fazer reserva para 10 pessoas? Pois bem. No final de semana, levar algo de estudo para ler não pega muito bem. Assim, passe numa banca de jornal antes e compre o jornal do dia. Isso irá te distrair enquanto espera a comida chegar e evita que você fique se sentindo mal por estar ocupando toda aquela mesa, enquanto outras pessoas esperam vagar um lugar. Se encontrar algum conhecido (o que é bem provável de acontecer), diga que foi comer rápidamente, pois vai encontrar um pessoal depois. Ou que todos de sua casa viajaram, e você não estava com vontade de cozinhar. Isso servirá para despistar...
É isso, o próximo manual será de como ir ao cinema e não entrar em depressão por fazê-lo sozinho.
A primeira coisa que devemos observar é o dia da semana. Durante a semana, é comum pessoas comerem sozinhas, principalmente durante o almoço. As coisas, portanto, ficam mais fáceis. Vamos lá.
Durante a semana, escolha um lugar perto de escritórios, onde o movimento durante o almoço é grande. Se você não trabalhar/estudar no Centro, ainda assim existem várias regiões com alta concentração de escritórios, tais como Botafogo, Ipanema, Copacabana, etc. Chegue cedo, evitando o horário de almoço normal dos executivos, por volta das 13h-14h. O ideal é chegar as 12h30. Peça uma mesa de dois, mas já avise que só você irá comer. Se não houver uma mesa para dois (o que é raro durante a semana), peça para que uma mesa de quatro seja dividida. Sentar sozinho numa mesa para quatro pessoas é muito ruim e o sentimento de solidão só piora. Já acomodado, peça rapidamente o prato e a bebida. Dessa forma, o Sabotador demonstrará que está com pressa, mesmo que isso não seja verdade, o que justifica o fato de estar indo sozinho ao restaurante. Feito o pedido, vem a parte fundamental: saque algo para ler. Durante a semana, fica mais fácil pegar alguma coisa da faculdade ou do trabalho para ler e isso será tomado como algo normal. Dependendo de como o fizer, o Sabotador passará uma imagem ideal. Coma, beba e peça a conta e, é claro, um café expresso. Pronto, você sobreviveu a um almoço desacompanhado.
Agora, nos finais de semana, a coisa complica mais. Domingo, por exemplo, é um dia no qual famílias inteiras vão almoçar juntas, grupos de amigos, etc. Daí decorre a dificuldade em encontrar um restaurante que tenha mesa só para dois. Da mesma forma como durante a semana, procure se adiantar ao movimento: chegue no lugar por volta das 13h-13h30. Se não houver mesa para dois, não se acanhe e se sente numa mesa para quatro e não se perturbe se, passado algum tempo, houver fila e as pessoas te fuzilarem o olhar. Problema delas, quem mandou não fazer reserva para 10 pessoas? Pois bem. No final de semana, levar algo de estudo para ler não pega muito bem. Assim, passe numa banca de jornal antes e compre o jornal do dia. Isso irá te distrair enquanto espera a comida chegar e evita que você fique se sentindo mal por estar ocupando toda aquela mesa, enquanto outras pessoas esperam vagar um lugar. Se encontrar algum conhecido (o que é bem provável de acontecer), diga que foi comer rápidamente, pois vai encontrar um pessoal depois. Ou que todos de sua casa viajaram, e você não estava com vontade de cozinhar. Isso servirá para despistar...
É isso, o próximo manual será de como ir ao cinema e não entrar em depressão por fazê-lo sozinho.
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