terça-feira, 17 de abril de 2007

Beija-flor do Maracanã

A cena se passou a beira do balcão de um pé sujo da zona norte, estrategicamente posicionado em frente a uma universidade. Como um professor faltara, dois amigos resolveram tomar uma cerveja para por o papo em dia. Ambos eram filhos de classe média, bem nascidos, bem providos. O objeto da conversa era a recente estadia de um deles em Londres. Absortos em suas confabulações, os amigos mal perceberam um rapaz que entrou no boteco e se sentou ao lado deles, também no balcão. Maltrapilho, contava os despojos de uma guerra silenciosa travada nas ruas. Pediu refrigerante e amendoim: o dia havia sido bom. E ali naquele balcão de um boteco sujo da zona norte tudo ficou muito claro. Tão claro que doia. A proximidade física mascarava a distância social. Duas realidades que nunca se encontrariam, salvo nos sinais fugazes. Diferentes temporalidades. E os amigos, após finda a cerveja, se levantaram calados e um tanto quanto envergonhados de estarem maldizendo suas realidades, sonhando com cidades distantes e mulheres perfeitas. No estacionamento se despediram, cada um para seu carro, cada um para sua casa na zona sul. Durante a volta, um dos estudantes cogitava sobre o que havia sentido...seria culpa burguesa? Hipocrisia? Não importa...

Um comentário:

Le grand saboteur disse...

licença poética por favor hein..escrever na insônia não dá mto certo!